segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Lágrimas são dádivas de Deus


Depoimento Patricia



Lágrimas são dádivas de 

Deus

Hoje meu dia começou doloroso, como todos os outros vem sendo. Acordei de manhã, como sempre, sem saber se o que vivo é verdade ou um pesadelo. Leva algum tempo para eu compreender que é realidade. Não vou enganar ninguém dizendo que a dor diminui. No que toca à mim, e à muitas mães que padecem do mesmo sentimento, a dor aumenta, porque a saudade também cresce, e a vontade de ver cada vez mais.Está perto de completar um ano que minha filha partiu do mundo físico, e eu sinto como se fosse ontem. Foi no dia 1º de outubro. Ela faria 15 anos, em 2009, dia 22 do mesmo mês. Ia ganhar o que tanto sonhava, um cachorrinho, o qual prometeu cuidar, levar para passear, enfim, ser responsável por ele. Estava muito ansiosa para este aniversário. Ela não queria festa, acredito eu porque ela já era uma festa. Quando vi o recado do namorado no orkut dela do dia 22, dizendo:"como eu queria que você estivesse aqui, eu queria te comprar um presente e não gastar dinheiro com besteira.", senti aquela pontada forte no coração, mais uma vez. Porque na minha visão de mãe era para a minha moça de 15 anos estar comemorando com a família, o namoradinho, amigos...e ela tinha tantos amigos. Minha mãe lhe dizia:"Filha, ninguém tem tantos amigos assim", ao que ela respondia: "Eu tenho, vó." Com toda a segurança. E foi o que aconteceu naquela noite dolorosa de velório, filas e filas de jovens, muitos ainda com mochilas nas costas, vindo direto do colégio. Choro, tristeza, e a dor verdadeira daqueles meninos e meninas, sem acreditar que a amiga, cheia de vida como eles, tinha ido morar em um outro lugar.Uma das queridas amigas, gritava para ela abrir os olhos, inconformada. "Não vai abrir mais.", disse o pai. Ainda assim ela escreveu como se fosse para minha filha no blog, que parecia mais uma brincadeira dela (ela era muito brincalhona, irreverente), e que ela ia sentar e dizer:"Calma gente, peguei vocês! É tudo brincadeira!" Mas não era.Lá estava minha filha, como disse minha mãe, linda e deitada, sem nenhuma maquiagem, pois foi pedido que não pusesse nada no rosto dela, os cílios longos, a pele clara, os cabelos emoldurando o rosto, compridos, em volta daquele semblante juvenil, que parecia dormir. As bochechas, surpreendentemente rosadas, assim como os lábios, mesmo sem um pingo de pintura, o que nos deixava  atordados...havia vida ali, por mais contraditório que possa parecer. Por isso, minha mãe a chamou de "Branca de Neve", porque assim ela parecia. Beijei-lhe muito o rosto e as mãos, quando minhas lágrimas caíam no rosto dela eu tinha impressão que ia lhe dar vida novamente, esperava um milagre até aquele momento, que Jesus a ressuscitasse. As velas queimando em volta eram partículas de sua luz, a presença dela tomava conta dali de uma forma vívida, o que me fazia pensar que minha filha apenas dormia e tinha dificuldades de acordar. Eu no desespero comecei  tirar os enfeites sobre o corpo dela, querendo tocar-lhe os pés, as pernas, minha menina, até que alguém me fez parar.Minha mãe escolheu a roupa favorita dela, a que ela mais usava para sair, rir, ir ao shopping como quase toda adolescente, namorar.Minha filha não acordou. Quando cheguei em casa no terrível dia seguinte, dopada, os enfermeiros haviam e aplicado injeção nas veias no dia anterior, quando soube da notícia no hospital e gritava e me debatia, e tiveram que me deitar forçadamente numa maca; e nem assim eu relaxava, tomei uns calmantes que colocaram na minha boca, e ali ficava, estática, repetindo:"O que vai ser de mim? Não tenho mais nada, minha vida perdeu o sentido." Eu não queria acreditar! Aquilo tudo só poderia ser absurdo, mentira! Eu queria tirar minha filha dali e levá-la para casa. Eu não podia. Como dizia, ao chegar em minha casa, vi os tênis dela All Star no chão e a revista Capricho aberta em cima do sofá. Sinais da vida cotidiana dela, que ainda estavam ali. Comecei a gritar e minha mãe foi tirando tudo que via pela frente, me levou até à minha cama, e ali, ainda chorando, os sedativos finalmente conseguiram me vencer e dormi. No meu sonho, o que é mais incrível, sonhei que minha filha estava sentada a meu lado na cama, em uma cadeira, e me fazia carinho. Foi impressionante e quando acordei ainda procurava por ela. Desesperada, vi uma edição do Evangelho segundo o Espiritismo, abri aleatoriamente e a mensagem era: "Mortes prematuras."Transcrevo aqui um trecho:"Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo.
Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. (
Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. (Op. cit., cap. V, item 21.)Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. (Op. cit., cap. V, item 21.)Não é fácil aceitar estas palavras, a separação do físico. Porém, tento, mesmo contrariada. Choro, choro muito. E digo à minha filha:"Compreenda a mãe, eu sou terrena demais ainda."Dizem que não devemos chorar ou eles ficam tristes do outro lado. Não acredito mesmo que isso seja verdade. Eles devem ser orientados ou então  terem a noção do que nos acontece:"Poxa,  é minha mãe, deixa minha mãe desabafar a dor, chorar. Tudo tem seu tempo, um dia mãe, você vai entender, mas se é o que precisa, chora..." imagino-os assim de onde estão. A mãe está arrasada, dolorida, e ainda nem chorar pode?Já dizia Santo Agostinho: "Lágrimas são o sangue da alma."  Jesus quando chegou à Bethânia, e recebeu a notícia da morte de Lázaro, teve como primeira reação chorar. Ele também chorou ao saber o que iria passar, e chegou a pedir:"Pai, livra de mim este cálice." Pois se o Pai chorou, e mostrou temer mesmo que por um momento, quem somos nós para bancarmos os fortões ou fortonas e não chorar? E para que servem as lágrimas? Por que foram criadas? Só para umidificar as vistas? Se fosse só para isto, por que elas cairiam, cairiam, vindas do mais profundo de você? A dor é para ser vivida, não escondida, porque ela vai explodir depois.  Alegria forçada é o pior que pode haver. Sabe, penso que a sociedade não aceita as lágrimas porque não gostam de ver a tristeza. Sociedade, uma notícia: a tristeza existe. A vida não é o "oba-oba" que mostram ser pela mídia, nem ninguém fica eternamente no plano físico. Cada vez que a palavra "morte" é dita, causa um confrontamento. As pessoas são obrigadas a pensar nela. Não só na dos seus, como na própria. E por que assusta esta palavra? Procuramos fingir que tudo estará sempre calmo. O acidente aconteceu com o primo do vizinho, a linda adolescente, com uma vida pela frente, cheia de planos, que foi sequestrada, estuprada e morta por psicopatas só está na TV. E muitos se comprazem até ao ler essas notícias, assistindo detalhes de como foi a execução de fulano ou beltrano, como a jovem e linda moça se foi, o que os assassinos fizeram e como; numa mórbida curiosidade também alimentada pela mídia. Não deixa de ser diferente quando os imperadores de Roma expunham os cristãos na arena para vendo-os serem mortos pelos leões, ou a luta dos gladiadores, sempre vida ou morte. A vibração da multidão, a dor do outro que se tornava uma forma negra de se divertir, "porque não era com eles", enquanto o louco Nero comia uvas. É isso que vemos quando ocorre um acidente, as pessoas se juntam à volta, sem a real preocupação com as vítimas. Porém, quando a Morte bate na porta de um destes espectadores, eles sentem na pele e na alma que dor dos outros não é curiosidade ou diversão.  Por isso, é melhor começar a pensar em solidariedade, mesmo que a tragédia (felizmente para você) nunca tenha acontecido. E espero de coração que não.Minha menina teve uma broncopneumonia aguda, da noite para o dia fechou os olhos. Não dou mais detalhes, dói demais. Muitas pessoas me perguntam:"O que houve com sua filha? ", será que não tem noção do quanto dói o coração de uma mãe? Revivemos cada instante. Se alguém não suportar a curiosidade. pergunte a outro, não à própria vítima da dor, mas antes, pense: "Por que satisfazer minha curiosidade? O que isso acrescentará à minha vida? "Hoje, antes de ir ao "Encontro de amigos solidários na dor do luto," minha mãe estava reorganizando algumas fotos. Eu não sabia, e entrei no quarto para avisar que estava saindo, quando duas fotos me chamaram a atenção.

Aproximei-me. Eram duas fotos da minha filha, vibrando feliz, um riso lindo, de maria chiquinha, com apenas dois anos de idade, no shopping, no colo do Papai Noel. Muitas crianças choravam ou tinham medo, ela não, os olhos dela brilhavam de alegria, uma alegria tão intensa que me fez começar a chorar. Os bracinhos faziam festa. Eu lembro desse dia como se fosse hoje. Minha mãe disse:"Não era para você ver agora, filha..."Chorei. Saí chorando e arfando. "O que aconteceu com minha vida?   O que é minha vida agora?" Fui então ao encontro das pessoas enlutadas. No táxi, tentei manter uma respiração mais ritmada para ir me acalmando, mas as lágrimas escorriam sem parar.   Chorem. Chorem sem culpa. Lágrimas são dádivas de Deus.  












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